segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O USO DAS TECNOLOGIAS E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA.

Resumo

Um dos aspectos importantes da modernização dos currículos de licenciatura se refere ao preparo do professor em utilizar os recursos da tecnologia no contexto de ensino e aprendizagem. É necessário criar novos processos e métodos para o trabalho pedagógico, investindo nas tecnologias de informação e comunicação, utilizando-as, especialmente, como ferramenta a serviço da formação permanente e continuada das pessoas na busca do conhecimento. Nesta perspectiva, e através de estudo bibliográfico, discorreremos a respeito da necessidade do professor adentrar no mundo tecnológico e utilizá-lo para facilitar o processo de ensino-aprendizagem da matemática, tornando cada vez mais evidente que o seu papel educativo essencial não é apenas formar novos conhecedores de matemática, mas, sim, contribuir de forma positiva para a formação educacional global dos cidadãos.

Palavras-chave: Professor. matemática. tecnologia.

Introdução
Quando lidamos com mudanças educacionais, é preciso entendê-las como um processo lento, algo que não acontece de forma instantânea. É importante ressaltar que o professor tem fundamental papel nesse processo, partindo do principio que a maioria das mudanças ocorrem dentro da sala de aula, sob a orientação do docente. Logo é imprescindível a participação ativa do professor no planejamento das mudanças, já que o mesmo deve sentir a necessidade dessas transformações, a exemplo do uso da internet, softwares educativos e diversas mídias. Para tanto, é necessário que exista um comprometimento de todos os envolvidos na gestão, como diretores, alunos e pais, pois para o êxito deste trabalho é necessário a contribuição ativa de todos os atores presentes na escola.
Nóvoa (1995) afirma que é preciso fazer um esforço de troca e de partilha de experiências de formação realizadas pelas escolas e pelas instituições de Ensino Superior, criando progressivamente uma nova cultura de formação de professores. O autor complementa afirmando que a formação docente deve ser concebida como um dos componentes da mudança, em conexão estreita com outros setores e áreas de intervenção, e não como uma espécie de condição prévia de mudança. E acrescenta ainda, que essa formação não deve ser feita antes de ocorrer às mudanças, mas sim durante o seu processo, ao produzir esforços de inovação e busca por melhores caminhos para a transformação da escola, onde toda ação deve ter como eixo norteador a escola, em uma perspectiva de formação-ação.
Especificamente quando se trata das mudanças no âmbito das tecnologias, é preciso atentar para o fato de que não se trata de uma junção da Informática com a Educação, mas sim de integrá-las entre si e à prática pedagógica, o que implica um processo de preparação contínua do professor e da escola.

As Tecnologias e a Prática Docente

Ao discutir as implicações para a prática docente, causadas pela inserção das tecnologias na sala de aula, Penteado (2000) afirma que, quando o professor opta por fazer uso das novas tecnologias, ele está, na verdade, saindo de uma zona de conforto e entrando numa zona de risco, pois nas aulas convencionais, o professor consegue prever e controlar quase tudo. E embora muitas vezes o professor não esteja satisfeito com a situação, ele prefere permanecer nela a enfrentar o desafio de entrar na [1]zona de risco. Isso ocorre porque, nesta última, o professor passa por situações que não são comuns na sua prática, sentindo-se por vezes ameaçado, por não poder prever um caminho a ser seguido.
Com relação ao saber e ao desenvolvimento da aula, modifica um pouco a postura do professor, no que se refere ao controle da situação, passa a não ser constante, e isso ocorre usualmente por conta dos problemas técnicos e da variedade de caminhos que os alunos podem seguir. Além disso, surgem frequentemente dúvidas que o professor não sabe responder de prontidão, e que muitas vezes o obriga a dizer “não sei”, o que, na maioria das vezes, não é comum em seu cotidiano.
Podemos perceber também, que na sala de aula as relações de poder são afetadas pela presença das tecnologias, pois o conhecimento que antes estava quase que exclusivamente nas mãos do professor, pode passar a ser, em alguns momentos, do domínio dos alunos. Por vezes, os alunos sabem mais sobre o computador do que os professores, e, é preciso reconhecer que, como afirma Penteado (2000), o poder legitimado pelo domínio da informação não está apenas nas mãos do professor: os alunos conquistam espaços cada vez maiores no processo de negociação em sala de aula, quando se faz uso das tecnologias.
Dentre outros aspectos, o medo e a insegurança fazem os professores desistirem de enfrentar os desafios dessa prática, ou apenas adaptam suas aulas, criando roteiros de aulas com atividades fechadas, sem espaço para exploração, surgindo dúvidas similares às das aulas convencionais, em que ele sabe responder sem dificuldade. Com isso, o docente abdica da possibilidade de usufruir do potencial das tecnologias. É importante salientar que, para que o professor implemente uma mudança educacional, de forma que resultados positivos possam ser observados, é preciso que ele esteja engajado em todo o processo de mudança e tenha consciência do seu papel.
Além disso, é necessário que o professor se sinta estimulado a fazer uso das tecnologias, tenha oportunidade de lidar com sua insegurança e até mesmo com sua falta de conhecimento técnico, através de um suporte periódico, tanto para as questões técnicas, quanto para questões de dimensão pessoal; que sua escolha lhe ofereça os recursos necessários para o desenvolvimento de seu trabalho; e que tenha acesso a uma formação continuada, em que sejam protagonistas ativos nas diversas fases dos processos de formação.

A Formação de Professores de Matemática e o Uso das Tecnologias

Uma Licenciatura deve ser pensada e estruturada diferentemente de um curso que não tem como perspectiva a prática docente. Trata de alguns princípios que devem nortear a formação do professor. Um deles é a formação pessoal, social e cultural dos futuros docentes, que muitas vezes é ignorada. Esta permite que o formando compreenda o ser humano a quem irá ensinar a Matemática, e se desenvolva como pessoa e cidadão o suficiente para tornar-se um bom professor.
A formação científica, tecnológica, técnica ou artística na respectiva especialidade, que é necessária para que o professor domine o conteúdo matemático que se propõe ensinar, é outro ponto a ser considerado no processo. E, além deste, a compreensão das idéias básicas que o suportam, ou seja, o domínio dos modos de pensar próprios da criação e do desenvolvimento da Matemática.
A formação do domínio educacional é outro aspecto a considerar, ela contribui para a reflexão sobre problemas educacionais, tratando de discussões que ocorrem na didática e outras áreas da Educação. Esta reflexão é importante para que o futuro professor assuma o compromisso político de ação e transformação no quadro de fracasso do ensino da Matemática. Ademais estes mesmos autores ressaltam que é preciso que os formandos vivenciem diferentes formas de trabalhar o conteúdo matemático, pois só assim poderão quebrar a existente repetição do método tradicional adotado pela maioria dos professores.
É fundamental ressaltar, as questões de ordem prática, pois não basta ao professor conhecer teorias, perspectivas e resultados de investigação. Tem de ser capaz de construir soluções adequadas para os diversos aspectos de sua ação profissional, o que requer não só a capacidade de mobilização e articulação de conhecimentos teóricos. Mas, capacidade de lidar com situações concretas, competências que precisam ser desenvolvidas ao longo da formação, durante a etapa inicial e ao longo de sua carreira. Desta forma, a formação de professores pode ser encarada como um processo de indução numa comunidade de prática e de discurso, que tem suas próprias ferramentas, recursos, idéias e debates.
Na sua prática, o professor poderá perceber a necessidade constante de aperfeiçoamento, isso fica evidente, no caso das tecnologias, já que na área de informática as mudanças ocorrem com muita rapidez, e o risco de obsoletismo é grande. Assim sendo, os cursos de formação continuada tem fundamental importância e é preciso ressaltar a necessidade dos mesmos oferecerem dois momentos: um técnico deve dar base para o professor aprender a lidar com o computador, com as ferramentas que ele oferece, e com os softwares, pois é preciso conhecer as tecnologias para poder usá-las como ferramentas pedagógicas. E o pedagógico, que segundo Frant (1994), pode favorecer a discussão sobre o papel do professor, sobre o que é ensinar, e sobre como se aprende, além de discutir as potencialidades da tecnologia a ser utilizada; os problemas que podem ser encontrados; a preparação e o desenvolvimento das atividades, entre outros aspectos.
Além de destacar esses dois momentos dos cursos de formação, é importante mencionar outro aspecto: a perspectiva crítico-reflexiva. Um professor reflexivo não se limita à aplicação de regras, estratégias e métodos de ensino: ele precisa ser aberto e flexível para se familiarizar com o conhecimento tácito do aluno, redefinir os problemas suscitados, reformular estratégias e reconstruir sua ação pedagógica. Sua formação deve possibilitar um ambiente favorável ao desenvolvimento do pensamento autônomo, que propicie momentos de autoformação dos professores.
A prática pedagógica durante os cursos é outro aspecto a ser abordado. É importante que o curso propicie aos formandos momentos de imersão na prática com as tecnologias numa relação teoria versus prática. Assim, o professor tem a oportunidade de discutir, durante o curso, sobre o que ocorreu em suas aulas, suas dificuldades e incertezas, já que isso certamente o ajudará a enfrentar diversas situações. Ao vivenciar essa prática na condição de aluno, é possível que os professores a transfiram para a sua sala de aula, vale a pena ressaltar, também, que a escola pode e deve ser um ambiente para formação continuada do professor.

Considerações Finais

Concluímos, portanto, que é importante o uso das tecnologias no cotidiano escolar, como uma das ferramentas que facilitam o processo de ensino aprendizagem da matemática, enfatizando a importância do envolvimento dos professores para o bom andamento do processo.
Dessa maneira, para que os professores possam usar as tecnologias de forma que estas possam proporcionar um ambiente de aprendizagem, no qual os alunos sejam capazes de explorar os conteúdos matemáticos, é imprescindível que os docentes recebam suporte periódico e cursos de aperfeiçoamento, pois, o que se percebe é que, sem suporte, eles avançam pouco nesse sentido. É preciso que o professor esteja permanentemente ligado a um grupo de formação continuada, no qual a reflexão coletiva seja uma prática freqüente.


Referências
NÓVOA, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1995.
PENTEADO, M. G. Possibilidades para a Formação de professores de Matemática. In: Miriam Godoy Penteado; Marcelo de Carvalho Borba (Org.) A Informática em Ação: formação de professores, pesquisa e extensão. 1 ed. São Paulo: Olho Dágua, 2000.
PENTEADO, M.G. Novos atores, novos cenários: discutindo a inserção dos computadores na profissão docente. In: BICUDO, M.A.V. (org.). Pesquisa em Educação Matemática: Concepções & perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
FRANT, J.B. Tecnologia, corpo, linguagem: cognição. I Simpósio Brasileiro de Psicologia da Educação, 1994.






[1] É o novo, algo inusitado, que certamente deixará o docente apreensivo pelo fato de mudar a sua rotina e tirá-lo da zona de conforto que é o modelo tradicional, em que ele tem o controle da situação.


Trabalho Apresentado no II SIEMAT - Seminário Internacional de Educação Matemática

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